quarta-feira, 2 de julho de 2014

Há dezoito anos que moro na mesma rua. Não conto os dois últimos em que fiquei longe. Eu sempre tive consciência de como ela é linda, mas, às vezes, esqueço. Foi o que acabou de acontecer. Hoje de manhã, levando a Maria Nita pra passear, foi como se a visse depois de muito tempo. O ipê amarelo na calçada oposta à minha ainda estava lá, cobrindo de flores a picape vermelha do vizinho, uma visão que me tira o fôlego desde pequena. A vista do céu ainda é a mesma, uma vista privilegiada, posto que minha rua é bem alta e longe de prédios. Se eu olhar bem pra cima, envergando o pescoço em noventa graus, enxergo só o céu e nenhuma casa, e parece que estou voando. Sem contar a música animada vinda da academia, o dálmata da senhora minha vizinha, a goiabeira na calçada da bifurcação, que só deu fruta uma única vez na história desde que nasci. Como se uma pedra martelasse meu crânio, notei que venho tendo pensamentos tortos. A verdade é outra.

Percebi que tenho muita sorte. Não só por morar nessa rua, mas por ter todas essas chances. Por ter um amor correspondido. Por ter família, amigos, casa. Por poder estudar e viajar. E brotou uma semente há muito enterrada. A vontade de que todo mundo no mundo se sinta assim também.

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