quarta-feira, 6 de novembro de 2013

E se Descartes fosse poeta?

Filosofar não é o meu forte. Assim, trago aqui pensamentos soltos, um pouco mastigados, e jogo num texto cru. 

Estou em época de vestibular, tentando desesperadamente tatuar fórmulas e conceitos no meu córtex, ou não passarei na droga da prova. É um método falho e pobre de avaliação, na minha opinião, mas não é sobre isso que venho falar. Durante minhas tardes de estudo, frequentemente me pego (apesar de amar gramática, não vou usar a ênclise, desculpem) pensando o mundo como um novelo de fenômenos físicos e químicos amontoados e entrelaçados. Fico pensando em por que as gotas de água da chuva no vidro do carro distorcem a imagem do semáforo (e desespero-me (pronto, usei a ênclise) ao perceber que não sei, pois pode cair no vestibular), quando gostaria de estar apostando corrida de gotinhas e ficando tonta com o cheiro delicioso de terra molhada (asfalto molhado, acho) como fazia quando criança. Devaneio sobre a refração da luz do sol na minha janela, ao invés de admirar a vista incrível do por-do-sol que tenho do meu quarto.

A questão é que não acho que há uma forma certa ou errada de se encarar o mundo. A visão científica e a poética se estapeiam dentro de mim, cada qual querendo tomar o lugar da outra. Embora me dê prazer compreender o funcionamento das coisas, não acho que um arco-íris possa ser reduzido a um conceito, nem o globo terrestre a meras linhas meridionais. Não que eu ache que a ciência seja um erro e deva ser ignorada; pelo contrário! Como para qualquer coisa na vida, procuro um equilíbrio. Quem tende a querer explicar tudo a seu redor passa a ser triste, porque não há qualquer beleza (ao menos não que eu possa ver) em assistir a um relâmpago e pensar que é só mais uma descarga das nuvens, que são só moléculas de água, que é só um oxigênio e dois hidrogênios que vivem grudadinhos. Em contrapartida, desconhecer qualquer explicação e acreditar que um relâmpago é fruto da ira divina me parece igualmente entristecedor.

É por isso que acredito em um equilíbrio. Saber o que é e, por não temer, poder admirar. Tenho medo de achar que sei tanto e a vida perder a magia. E o cheiro de chuva não causar mais qualquer efeito. E o pôr-do-sol não significar mais nada. Vivo me policiando, o tempo todo, pra não deixar esse bando de fórmulas me engolirem, digerirem e cuspirem uma Marina cética, insensível. Gosto de ter a alma assim, meio sabida, meio poeta, e poder voar de uma metade a outra, e poder juntá-las numa só.



*O uso excessivo de parênteses é proposital e muito bacana