tag:blogger.com,1999:blog-6548116944324779472024-02-19T04:37:33.638-08:00 hematopoéticaMarina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.comBlogger32125tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-12668603660711845062021-06-30T22:16:00.015-07:002021-06-30T22:44:28.852-07:00Noite sem luar (ou Lua Negra)<p style="text-align: justify;">Toda mulher, quando nasce, é presenteada com um enorme fardo, e no meio desse fardo há sempre uma pequena chave. O fardo nem a chave têm devolução ou troca, e a mulher não pode dizer não, pois que não sabe ainda falar uma palavra que seja. Ela vai crescendo e suas perninhas se arqueiam sob o peso, e os bracinhos tateiam em vão à procura do fardo, do invisível fardo. Mas não se pode palpá-lo, apenas seguir cambaleando, fazendo o que se pode fazer, nunca o que se quer, para chegar onde se deve chegar, nunca onde se precisa.</p><p style="text-align: justify;">Eis que em algum momento a mulher se percebe mulher - muito embora já lhe tenha sido apontado e enfatizado ao longo de toda a vida, e embora seja sabido por todas que não se pode palpar o fardo, ele pode ao menos ser encarado e analisado: é nesse momento que ela encontra a pequena chave. E é aí que ela tem que fazer a pergunta, ela precisa se perguntar: "o que essa chavinha abre?"</p><p style="text-align: justify;">Ninguém gosta de mistérios não resolvidos. Alguns dos filmes com maior rejeição são aqueles em que algo de obscuro não foi devidamente esclarecido, ou em que pontas permaneceram soltas, sem solução, sem respostas fáceis. É angustiante carregar perguntas que nunca serão devidamente respondidas; paralelamente, porém, um dos livros mais célebres da nossa literatura tem sua fama justamente porque seu cerne, a principal questão a ser respondida, permanece sem resposta; e sua genialidade mora aí, no final penosamente subjetivo: cabe ao leitor conceber e parir a própria versão dos fatos.</p><p style="text-align: justify;">Existe muito fascínio em se ter posse de uma chave e não saber o que ela abre. Algum tempo atrás, grande parte da mística de uma certa noite de ano novo envolveu um cofre muito antigo que havia no quarto da minha amiga desde antes de ela se mudar pra lá, e cujo segredo tentamos adivinhar por toda a madrugada. Nunca vamos saber o que havia naquele cofre. E isso contribui para a aura de psicodelia quase feérica que acabamos por atribuir àquela noite. Então eu encontro uma chavinha que percebo estar comigo desde sempre, e simplesmente não sei o que ela abre, e veja bem, nem quero saber!, pois o deslumbramento é um lugar muito mais seguro do que o que quer que seja a sedutora verdade. Dessa forma, a verdade ainda não é fato concreto, apenas um jogo de hipóteses pairando sobre mim e permitindo que eu imagine toda sorte de surrealidades, que é, afinal, o que mais me agrada fazer.</p><p style="text-align: justify;">Mas, qual meu azar, da chavinha verte um filete inesgotável de sangue vermelho vivo. </p><p style="text-align: justify;">A visão do sangue impacta qualquer ser humano, do mais ao menos habituado. No começo, era suficiente enrolar a chave num monte de papel, cobrir com plástico e levar no bolso. Quando o sangue manchou minhas roupas, decidi deixar a chave em casa. Era somente muito tarde da noite, voltando do trabalho, que eu parava para contemplá-la: nada estancava, nada fazia parar a hemorragia. Em pouco tempo e insidiosamente tudo que me pertencia se tingia de um vermelho amarronzado. Quando ia me deitar, no escuro do quarto, surgia uma pequena porta, e por trás de uma pequena fechadura um par de furiosos olhos castanhos me encarava. Uma visão que eu, apavorada, simplesmente não conseguia mais ignorar.</p><p style="text-align: justify;">Eu realmente acredito que a ignorância é uma espécie de bênção. Mas isso não é sempre verdade; não quando uma voz grita para ser vista e ouvida e é preterida por medo, um medo irracional, do que se sabe que ainda não se sabe. Eu estava sendo covarde, terrivelmente covarde. Eu sabia que o par de olhos por trás daquela porta mudaria tudo para sempre. Eu sabia que tinha que abrir a porta. Porra, eu <i>queria </i>saber qual força ou alma permanecia presa, deixada à míngua atrás daquela porta, um poder tão grande trancado por uma fechadura tão frágil, uma chave tão pequena. Então entendi por que aquela criatura me odiava. Na minha escolha pelo devaneio, eu me tornei a guardiã da sua liberdade, a portadora da chavinha tosca que continha um poder imensurável. Quando encaixei a pequena chave na pequena fechadura, ela parou de sangrar. </p><p style="text-align: justify;">Quando abri a porta, quem me encarava era alguém que eu havia secretamente alimentado e aprendido a aprisionar por anos, anos a fio. Seus longos cabelos emolduravam um corpo forte e esguio, sua voz erótica sussurava meu nome de modo quase vulgar.</p><p style="text-align: justify;">Seus olhos são meus olhos. </p><p style="text-align: justify;">Seu ódio é meu ódio.</p><p style="text-align: justify;">Seu poder sempre fora meu. </p><p style="text-align: justify;">Quando me virei e encarei o espelho, eu havia sumido, e em meu lugar um espectro diabolicamente lindo ria um riso selvagem. </p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #444444;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #999999;">(o primeiro texto que pari depois de tantos anos <u>tinha</u> que ser sob fortíssima influência do <i>Mulheres que Correm com os Lobos</i>: não podia ser diferente.)</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #999999;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #999999;">Edit: preciso confessar que tô muito emocionada por voltar a escrever. Nem sei explicar o que tem nas minhas lágrimas enquanto publico isso aqui.</span></p>Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-66461091418419928972017-12-06T18:08:00.002-08:002017-12-06T18:08:08.620-08:00O peixeEra mais uma das noites irritantemente cansativas que precedem uma prova.<div>
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Meus dedos faziam desenhos geométricos sobre o plástico quente do <i>notebook</i> aberto na matéria que eu, já exausta, tentava revisar - círculos concêntricos que aumentavam e diminuíam de diâmetro, "oitos" malucos que se sobrepunham para formar uma mandala, indo e voltando, em sentido horário...</div>
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Eu preferia colocar a atenção em um gesto repetitivo e involuntário (deveria ser, não?) a ler qualquer palavra que fosse que fizesse menção aos diagnósticos por imagem. 'Que patética é a graduação, às vezes', pensei, aliviada por escutar minha própria voz dentro da minha cabeça, no lugar da voz muda que inventamos para usar quando lemos uma dissertação em silêncio.</div>
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Olho para trás e encontro o olhar do peixe dourado, o último sobrevivente de sua espécie no microcosmos do aquário. Ted nadava insistentemente contra a parede de vidro, investindo toda a força de seu corpinho de peixe contra o invisível-intransponível. Tomava uns segundos de fôlego e novamente batia-se contra o vidro, três vezes, que é o número máximo que um peixinho aguenta se jogar contra um vidro antes de ficar cansado (o Ted quem me ensinou). Ao lado do aquário, na mesma direção em que o peixe mirava, estava o telefone. "Será que o Ted quer nadar até o telefone?", pensei. </div>
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Imagine que, em um lampejo, eu realmente me perguntei o porquê de o peixe não conseguir nadar até o telefone, que ficava tão perto do aquário. Enquanto compreendia, senti uma pontada de pena e culpa por poder me movimentar livremente em um ambiente que o peixe podia ver, mas não podia tocar, por mais que tentasse e tentasse atravessar o portal invisível-concreto que o isolava do resto do mundo. Fui tomada pela angústia, pela sensação desesperadora e claustrofóbica de se estar presa dentro de um aquário de 50cm x 30cm, capaz de enxergar tudo que havia fora dele, mas impossibilitada de estar em qualquer desses lugares; condenada a uma prisão em que não se compreende o que a prende. Neste mesmo centésimo de segundo, me ocorreu que o único limite entre o claustro e a liberdade do Ted era que não havia água ao redor do telefone. Então, no centésimo de segundo seguinte, foi com muita satisfação que eu, surpresa com a simplicidade com que se solucionava o problema, assisti enquanto a água transbordava profusamente do aquário, escorrendo pela madeira, formando uma poça generosa no chão, que logo cresceu em inundação e alcançou os meus tornozelos. Foi quase instantaneamente que, preenchendo cada quina e cada vão, a água alcançou o teto de casa. Eu agora flutuava por sobre a cadeira, os pés mal tocando o chão, sentindo com muito alívio a água gelada me envolver o corpo. </div>
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Olhei para trás novamente - Ted nadava a poucos centímetros do meu rosto. Qual não foi a minha alegria em perceber que eu podia tocar suas pequenas escamas douradas de peixe, da mesma forma que tocava o pelo dourado da cachorra Nita. Ele rodopiava alegremente pela sala, um mundo inteiro para explorar. Eu assistia contentemente à sua dança e sentia na pele o êxtase de se estar, relativamente ao microcosmos Aquário, <i>livre</i>. Talvez, só talvez, um dia o Ted não mais visse graça em ter apenas uma casa para explorar, e voltasse a bater a cabecinha contra alguma janela através da qual pudesse ver a rua. Por enquanto, pelo menos, ele estava feliz. E possivelmente sentisse a Liberdade em sua plenitude, pois tinha alcançado o espaço com o qual tanto sonhava.</div>
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Eu me empolgava em imaginar tudo que poderíamos fazer juntos. Eu também estava livre, mas do pesar de se conviver com um peixinho encarcerado. Agora, ele poderia comer na cozinha, junto com o resto da família, usar o banheiro social e até mesmo dormir na minha cama, se assim quisesse. </div>
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Foi só quando soltei um riso empolgado que notei que o que entrava pelos meus pulmões não era ar. </div>
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Era água.</div>
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Talvez um centésimo de segundo não seja suficiente para que um ser humano médio consiga planejar algo adequadamente. A mente tem tempo de se ocupar com o resultado que se deseja, unicamente, deixando em segundo plano as demais consequências. Não houve tempo hábil para que me ocorresse que eu não sabia respirar água, da mesma forma que o peixe não sabia nadar no ar. A sensação me fazia lembrar de quando era criança e fazia algo inofensivo pra mim, mas com uma consequência terrível que eu havia ignorado, como rabiscar de giz uma parede ou engolir uma moeda. Demorou alguns segundos para que o pânico completo se dissolvesse parcialmente pela água. Paralisada, eu ainda o observava. O peixe dourado agora nadava com menos euforia e mais tranquilidade, ciente de que não havia pressa - poderia visitar e revisitar todos os lugares mais de uma vez. O prazer evidente com que ele passeava por entre as estantes e a televisão terminou de dissipar qualquer sensação ruim que em mim ainda houvesse. O peixe estava livre, afinal. Não havia mais razão para sentir qualquer culpa ou angústia. Eu estava livre também.</div>
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Continuei imóvel e sorrindo, satisfeita, enquanto as últimas bolhas de ar sopravam tranquilamente pelos meus lábios.</div>
Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-81997157598920862172017-05-27T19:17:00.002-07:002017-05-27T19:17:22.403-07:00Heterogênea idade<div style="text-align: justify;">
Os dias têm passado à força, empurrados pelo tempo que insiste em sufocar violentamente a busca por um sopro de ar fresco, surrupiando o alívio e deixando um suspiro longo como prêmio de consolação. Ao final de cada noite, os olhos pregados no teto, deparo-me com mais um pequeno ciclo de pesos a se somarem, e cuja conta parece nunca fechar. Apesar de buscar respostas no frio, na chuva, no mês, na conjuntura, no passado, na escuridão; correlacionando dados sem qualquer precisão matemática, costurando pequenos tropeços inofensivos à procura de efeitos borboleta, teorias da conspiração, relações claras de causa e efeito; apesar de tudo isso, a conclusão é sempre cristalina, salgada, úmida.</div>
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Sou como o leite, matéria bifásica que é pura apenas à aparência. Milhares de partículas sólidas, gordurosas, suspensas em um líquido inócuo. A despeito de se tocarem, nunca se misturam. Na ânsia por ser una, espremo-as todas contra as mãos, e a mistura líquida escapa por entre os meus dedos, escorre pela minha roupa, minha pele, lembrando-me que sou o que sou - heterogênea. Presa dentro da minha própria condição, do que me dá vida e forma. Inútil procurar por uma única essência alinhada: mergulho as mãos e retiro pedaços de tudo que vivi. Ironicamente, é dentro dessa abrangência e pretensão de tudo comportar que me faço assim, vazia.<br />
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Foi-se o tempo em que busquei alguma coerência na postura humana. Por mais afiada que seja navalha das contradições, tanto fere a pele íntegra quanto reparte o pão. Sigo borboleteando, ora orgulhosa e ora envergonhada de minha condição, constantemente nauseada pelo peso dos segredos mais indigestos. Vomito-os pelas mãos, quando escrevo; pela voz, quando canto; pelos olhos, sem sucesso. Todos os meses, a lua guarda toda a dor só para si, vai se enchendo, enchendo, enchendo. Farta em seu apogeu, vomita-os todos, que alívio!, e vai murchando, murchando, murchando. Não sem alguma vaidade, transforma sua dor em um lindo, majestoso espetáculo.<br />
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Nasci cansada e apática a espetáculos. Por ora, para sumirem os sintomas, um texto publicado num blogue (coisa de gente ultrapassada) e 30 gotas de dipirona. </div>
Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-70978445731017367252017-03-13T19:57:00.001-07:002017-03-13T19:59:14.035-07:00Supernovade marte teu ser e de marte tua pele<br />
vestindo aneis de saturno, dez dedos<br />
escorrem provando galáxias e medos<br />
orbito, sendo lua<br />
satélite<br />
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entre paredes, o universo aquece<br />
(contrai, expande, nó desatado)<br />
o céu sem estrelas é estrelado<br />
pelo encontro dos corpos<br />
celestes<br />
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e valsam e saltam e rodam sem pares<br />
escuta: o universo aquece e suspira<br />
coroa do sol, todo o resto gira<br />
por trás de teus olhos<br />
solares<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdQQSEWfK4rKHnsJZvLMpOsQisrxQYM7pah7dzvv20Bmdc5xVGl18twM_OKeEBjG-dfUKVb6JlZ1Eq-RCFbxpJs8fx20qU3H5jN-NSUgVgdOEvkidzNLC3p-idSYXwHSOD0f1vCF9seVk/s1600/a935d1b92f52defb93aa9d79de0f6177.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="280" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdQQSEWfK4rKHnsJZvLMpOsQisrxQYM7pah7dzvv20Bmdc5xVGl18twM_OKeEBjG-dfUKVb6JlZ1Eq-RCFbxpJs8fx20qU3H5jN-NSUgVgdOEvkidzNLC3p-idSYXwHSOD0f1vCF9seVk/s320/a935d1b92f52defb93aa9d79de0f6177.jpg" width="320" /></a></div>
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<span style="color: #f3f3f3;">Hoy el sol se escondió y no quiso salir</span></div>
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<span style="color: #f3f3f3;">Te vio despertar y le dio miedo de morir</span></div>
Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-53556959390122429182016-12-04T12:05:00.001-08:002016-12-04T15:02:47.395-08:00Fim de ano: um balanço<div style="text-align: justify;">
Uma das maiores alegrias desse semestre foi o despertar das mudas de íris daqui de casa, que, depois de um ano particularmente frio e difícil, resolveram juntar coragem e levar suas flores pra dar uma espiada na primavera. A íris é a flor mais tímida que eu conheço. Passa um ou dois dias em botão, pensando se vale a pena, se é seguro, se não estaria se expondo demais... e desabrocha na manhã seguinte, meio insegura, espreguiçando as três pétalas delicadas como um pedaço de papel de seda, pra mostrar as três menores e de um roxo vivo que até então estavam escondidas, coroando um pistilinho branco - seu maior segredo e razão de ser. Mal conversa com as visitas (o quintal tem recebido muitas abelhas e joaninhas-turistas de jardins vizinhos por causa dela), trata de recolher as pétalas num gesto de pudor, enrolando-as bem apertadas, até que ao fim do mesmo dia a flor se perdeu num abraço emaranhado e aguarda serena o desprender do talo.</div>
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Hoje de manhã fui levar a Nita pra passear e vi que uma nova leva de botões havia surgido (eles são umas gotinhas afiladas e brancas, no caso da íris-da-praia, parecidos com chamas de vela congeladas), provavelmente uma das últimas desse ano, que a planta já está claramente ficando cansada. Botões são sempre um tipo de promessa de algo incrível e secreto, uma espécie de sensualidade. Eis que, agora à tarde, procurando por algo perdido no jardim, percebo um botão perfurado, como se uma minúscula broca o tivesse violado, transpassando suas camadas mais íntimas até expor seu tesouro, o pistilo branco. Para a minha surpresa, aquele não era o único: três, cinco, sete botões seguiam o mesmo padrão, alguns já murchos, já morrendo. A minha reação imediata foi de tristeza e indignação, dado o recente ataque de pulgões sofrido pelo vaso de trevo-de-quatro-folhas. Inconformada, procurando nos buracos por uma larva, um pulgão ou algo que o valha, noto o trabalho meticuloso da abelha arapuá no botão logo ao lado. A pétala sobre a qual ela havia pousado já tinha seu buraco, assim como a de baixo e a depois dela, e a abelha se ocupava em mordiscar a próxima camada, ansiosa por encher as bolsinhas (já razoavelmente cheias, por sinal) com o pólen da íris.</div>
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De coração partido (e juro que não tenho nada em câncer no meu mapa astral), assisti enquanto a arapuá perfurava as pétalas de seda com as pequenas mandíbulas. Se ao menos eu pudesse dizer a ela que em algumas horas as íris lhes dariam de bom grado todo pólen que quisessem. Eu poderia expulsá-las, é verdade, e amanhã cedo minha vaidade seria agraciada com a visão do mar de íris abertas. Mas elas eram tão bonitas, na sua inocência faminta. Então entendi que, se o fizesse, teria de lidar com a culpa de privar as abelhas do seu possível jantar, talvez o da colmeia - sabe lá o tamanho da fome de uma abelha. Mais uma vez, olhei ao meu redor com resignação. Parece ser esse o ensinamento do ano, se é que há um. Talvez a culpa seja dessa minha mania de ver metáfora em tudo. No mínimo, a recorrência transformou o sentimento num amigo. </div>
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Mas não me enganarei: é difícil toda vez. </div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQ3HDLjbzEjyfQFtRBuM5Q-Y4WGSDHi5GGw1OqJJLtOCs1D84Am0sYfow7XPyNvf1ewuqFonISzn5FmJr4j4KxhofP630FWS6Jnum6xylDhjXytBWRqIjOsKM1KOc0Jv53A9r9oMPkgMw/s1600/20161109_121513.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQ3HDLjbzEjyfQFtRBuM5Q-Y4WGSDHi5GGw1OqJJLtOCs1D84Am0sYfow7XPyNvf1ewuqFonISzn5FmJr4j4KxhofP630FWS6Jnum6xylDhjXytBWRqIjOsKM1KOc0Jv53A9r9oMPkgMw/s320/20161109_121513.jpg" width="320" /></a></div>
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Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-33372273388461862872016-11-10T14:30:00.002-08:002016-11-11T03:06:05.465-08:00Barco de papel 20mg<div style="text-align: justify;">
Não foi uma mudança gradativa, como eu esperava; um dia eu acordei e simplesmente me sentia <i>bem. </i>Havia muito isso não acontecia. Surpresa, me agarrei à sensação - um oásis após meses em meio à areia seca -, ávida por cada segundo daquela paz sem causa concreta, mas nem por isso menos real.</div>
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Os dias que se seguiram foram mágicos, eu me sentia com catorze anos de novo. O que antes causava dor já não parecia importante, o que causava prazer agora levava a um estado de êxtase próximo à plenitude. Nunca vou esquecer de como foi confortável aquela tarde de chuva em Pirassununga - quem diria! -, os pés descalços na grama e as gotas grossas e geladas pousando na nuca, nos braços, nos olhos. Eu <i>sentia.</i> Sentia o vento e a água que me lavavam de dentro pra fora. Sentia o Deus que me aquecia no céu e a Deusa que me segurava na terra, embalada pela música que a natureza canta a quem se permita ouvir. </div>
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Recuperei alguma motivação pra estudar, apesar do aumento do sono, e reencontrei prazer em escrever. Minha cachorra se sentiu segura no meu colo, estremeci de amor pelo riso provocado, as maritacas fizeram ninho no pé de manga em frente à sacada do meu quarto e só nesse mês já vi dois arco-íris - ambos duplos. Um mês vivendo dessa forma foi suficiente pra que, pouco a pouco, dos meus tropeços cambaleantes se firmassem os passos e eu acreditasse que, mesmo em meio a um contexto tão conturbado, enfim as coisas caminhavam e nada poderia pará-las.<br />
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Apesar de procurar nutrir uma ingenuidade quase perigosa, sei que não há luva que resista à pressão da lâmina. Aconteceu de novo na noite que se seguiu ao segundo arco-íris.</div>
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A insônia é um preço alto a se pagar, é verdade. Quando acompanhada de um cansaço quase orgânico, borda um estranho paradoxo. Concluo sem chegar a qualquer veredito e aceito com resignação o que vier a me encontrar.<br />
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"Que lindo dia de sol!"<br />
"Lindo, né? Mas dias de muito sol como esse são promessa de tempestade..."</div>
Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-89675338571748543542016-10-20T17:59:00.001-07:002016-10-20T18:02:01.490-07:00A trapezista<div style="text-align: justify;">
Hoje se completam quatro semanas de primavera.</div>
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Enquanto todos dormem, sentada à escrivaninha, vejo a silhueta do pé de manga vizinho recortada contra o céu das vinte e três. A porta da sacada está aberta e por ela a frescura da noite vem aliviar o sangue quente de mormaço. Ouço a chuva encontrar serena o telhado e as folhas grossas da mangueira. O cheiro é de terra, asfalto e sabonete - uma mistura tão confortável que prontamente fecho os olhos e me deixo levar pela memória da criança cujo mundo repousava silente no colo materno.</div>
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<div style="text-align: justify;">
E, só por um instante,<span style="color: #999999;"> está tudo bem</span>.</div>
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<br /></div>
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<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Moments of clarity are so rare</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>I better document this</i></div>
Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-58701922489344677002016-06-19T11:37:00.001-07:002016-06-19T12:11:47.592-07:00No divã<div style="text-align: justify;">
"Já se sentiu como se estivesse lavando uma louça muito suja, com a serenidade de quem sabe que o ralo estará lá para barrar os restos de passarem pelo cano e, ao lavar o último garfo, nota que o ralo tinha sido deslocado pela força da água e todos aqueles pedaços simplesmente desceram esgoto abaixo?"</div>
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"Ahn..."</div>
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<br /></div>
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"Tá, pensa numa chinchila que nasceu e cresceu dentro de uma daquelas gaiolas com grades de metal e foi solta no jardim pela primeira vez. Assim que ela encosta as patinhas na grama, percebe que não era nada daquilo que ela imaginava e tudo que ela quer é voltar pra gaiola, mas a humana que a soltou está toda satisfeita por pensar que os guinchos desesperados da chinchila são expressão da alegria de estar, pelo menos na concepção dela, livre... Entende?"</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Mais ou menos... Você seria a chinchila, a humana ou a gaiola?"</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Olha, é assim: eu olho pra uma daquelas garrafinhas de água de 500 mL sacudindo no bolso de uma mochila, sendo transportada pra algum lugar que ela não faz ideia e cuja única função é tranquilizar a consciência de um cara qualquer, já que no lugar onde ele vai existem muitos bebedouros e ele dificilmente precisará recorrer à garrafa. Eu a olho e me sinto exatamente como ela. Entendeu?"</div>
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<br /></div>
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"Entendi... Mas o que você sente?"</div>
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<br /></div>
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<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/K4ILYT6id-s/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/K4ILYT6id-s?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
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Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-21019220539294596452016-04-21T20:46:00.001-07:002016-06-10T10:49:41.741-07:00O véu da estação<div style="text-align: justify;">
Dizem ser no outono que as árvores começam a despir-se de suas folhas para dar lugar a novas. É um conceito meio eurocentrista. Em terras tupiniquins, torna-se abstrato. O que é o outono paulistano atual senão uma queda notável da temperatura, ares mais secos e uma sensível melancolia no ar?</div>
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<br /></div>
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Não há motivo, nem necessidade de havê-lo. Cheiros, cores e sabores estão o tempo todo a trazer de volta cenas do passado. O contorno desalinhado dos prédios faz lembrar uma terra distante que nunca existiu. O sol brilha no mar de rostos, como faz todo santo dia... Mas, não, agora é diferente. Agora cada alma se ilumina, um universo inteiro preso num pequeno corpo de carne. As borboletas pousadas nas pedras abrem e fecham lentamente suas asas, com um aceno compreensivo. Os violões choram, emocionados, a ouvir seu próprio som. Cada ser parece sentir em dobro, expressar-se em dobro. Cada riso é melódico, cada lágrima reluz furta-cor, a garganta constantemente enovelada. As folhas ensaiam coreografias, brotam com graça, espreguiçam-se no ar.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É tempo de silêncios prolongados e olhares carregados de sentidos. É a hora em que as pessoas contam segredos nos mais pequenos gestos. O pássaro cansado a incendiar-se, apenas para renascer das cinzas.</div>
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<br /></div>
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Quem sabe não sou apenas eu. Vai ver fora da minha cabeça os dias estão passando sem qualquer alteração, segundos a fazer girar o ponteiro dos minutos e das horas numa dança infinita e compassada. Vai ver o mundo ainda é mais ou menos o mesmo e quem mudou foram estes olhos que o observam.<br />
<br />
É tempo de caírem as folhas, sem medo ou remorso. É o outono melancólico de uma alma a despir-se.</div>
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<br /></div>
Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-20841303324025767232015-08-24T19:08:00.000-07:002015-08-24T19:08:36.498-07:00Se eu fosse você (eu seria você)<div style="text-align: justify;">
Não é espantoso declarar que boa parte das minhas reflexões - eu, jovem paulistana universitária da classe média - tem como cenário um vagão qualquer do metrô. Ambos os percursos que costumo realizar sobre os trilhos, faculdade e casa do amado, são suficientemente longos a ponto de anestesiarem a mente, quando esta não é estimulada por um livro, uma música ou algo que o valha. Nesse estado de torpor, as ideias passam tranquilas, sem pressa, uma após a outra, em fila indiana. Às vezes, uma ideia puxa outra pela mão, desencadeando uma linha de raciocínio incrivelmente nova, inexplorada, excitante (em termos neuronais).<br />
<br />
O fato é que eu estava a observar uma moça. Ela era alta, negra, o cabelo preso num coque no topo da cabeça, e falava ao celular. Notei quão meticulosamente pintadas estavam suas unhas, o tom animado da sua voz. O que mais me chamou atenção, no entanto, foi sua boca. Um par de lábios delineados e cheios, tão vibrantes quando comparados aos meus lábios relativamente finos, pensei. Como seria minha vida se eu tivesse uma boca como a dela? Ou, indo além: como seria minha vida se eu <i>fosse</i> ela?<br />
<br />
Então essa pergunta puxou pela mão uma resposta aparentemente óbvia: ora, eu seria ela!<br />
<br />
Pense você: se tivesse nascido em Londres, na manhã de 16 de abril de 1889, homem e filho de Charles e Hannah Chaplin, você seria ninguém menos que Charlie Chaplin!<br />
<br />
Olhei ao meu redor, às outras pessoas no vagão. Todas elas eram possibilidades de mim, bem como eu delas. Se eu tivesse nascido aproximados trinta anos atrás, homem, filho dos pais dele, com os mesmos genes, no mesmo contexto universal, eu seria aquele cara ali, de moicano e regata, sentado do lado da janela. Se eu tivesse nascido em 19** (data não revelada porque ela não gostaria se visse), na mesma família que a minha mãe, no mesmo mundo que a minha mãe, eu seria a minha mãe, do jeito que ela é: dois filhos, mesmo visual, mesmas ideias, mesma essência; exatamente ela.<br />
<br />
Não confio ter conseguido transmitir a minha euforia diante dessa linha de raciocínio. Parece muito óbvio quando traduzido em palavras. O lance é que todas, todas, todas (!) as pessoas que existem são possibilidades umas das outras, em diferentes contextos familiares, sociais, históricos, geográficos, etc. Talvez um jeito de enxergar seja esse: todas as pessoas são a mesma (eu, você e todo mundo), expressas dentre várias das possibilidades de existência terráquea. Só uma possibilidade é excluída, se tomarmos como dada nossa existência: a de não existirmos. Outras pessoas, no entanto, não existem e jamais existirão. Ou vai ver que não existe ninguém e esse é mais um sonho maluco de um ser alienígena qualquer.<br />
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<br />
P.S.: Não faço a menor ideia (de) se Charlie Chaplin nasceu de manhã.</div>
Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-64411744421524816102015-05-24T18:11:00.003-07:002015-05-24T18:12:38.658-07:00Bradicardia, abracadabra!<div style="text-align: justify;">
Não faz sentido o ônibus estar sempre cheio às sete e vazio às dez. O esforço para adaptar o visual ao limiar de aceitação da sociedade é enorme, pois roupas e acessórios já não têm o mesmo brilho de antes. Grudar palavras difíceis na memória de curto prazo a fim de responder a perguntas supérfluas impressas num papel parece uma ação idiota. Os olhos em nada se alteram frente a um novo caso de opressão, porque há tempos já estão escancarados ao máximo. O horizonte tem trezentos e sessenta graus e o fim é sempre este.</div>
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No entanto. No entanto...</div>
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<span style="color: #999999;">A magia do nós em nada diminui.</span> </div>
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Não faz sentido o ônibus estar sempre cheio às dezoito e vazio às vinte e três.</div>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0m7jSn9-94zq8pdbh-a2m_7zBRUORs3p0aPIMs7wnhQDV1yG-NYTDnjiu9W8hJSiUYSy_9dL_vYwUotvbk8IORqEtDyKj-1BYXMsG4AAk07riUzvwbFT2ZKV7JaMKk2VonqLYfzsIFL4/s1600/4fd9b011b1870002d4cd1f09d8a87ba0.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0m7jSn9-94zq8pdbh-a2m_7zBRUORs3p0aPIMs7wnhQDV1yG-NYTDnjiu9W8hJSiUYSy_9dL_vYwUotvbk8IORqEtDyKj-1BYXMsG4AAk07riUzvwbFT2ZKV7JaMKk2VonqLYfzsIFL4/s1600/4fd9b011b1870002d4cd1f09d8a87ba0.jpg" /></a></div>
Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-39715607387978475462015-03-07T22:23:00.001-08:002015-03-07T22:23:07.870-08:00Os cacos do mundo<br />
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Entender os conceitos de fraternidade e sororidade passa longe do que é senti-los. Você os sente quando abraça uma causa que não é sua, ou quando a dor de outra pessoa escorre pelos seus olhos. É algo que transcende o ego e corre ao encontro do coração des outres. É ter a coragem, pejorativamente caricaturada como "rebeldia", de encontrar o equilíbrio entre pensamento e ação. São gritos de raiva atirados numa avenida, sua própria voz se misturando no ar, dando lugar ao coro, aos gritos, e de repente cada um daqueles rostos marcados pela revolta se transforma em algo maior: uma ideologia. Construímos juntes os escudos, mas ao fim de um dia, estão dilacerados. Espinhos na televisão. Espinhos nas pessoas no metrô, espinhos sob o travesseiro. Somos menos, porém cada um de nós representa o todo, e daí vem a força fascinante dessa minoria. Somos cacos de vasos diferentes. No entanto, o desejo de liberdade nos une como uma cola super bonder.</div>
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<br /></div>
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<iframe width="320" height="266" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://ytimg.googleusercontent.com/vi/4N3N1MlvVc4/0.jpg" src="http://www.youtube.com/embed/4N3N1MlvVc4?feature=player_embedded" frameborder="0" allowfullscreen></iframe></div>
Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-54252804201585510232015-02-08T16:14:00.000-08:002015-02-08T16:14:10.293-08:00A arte do encontro<div style="text-align: justify;">
"Que improvável, não?"</div>
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<br /></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpRVuKKv6yJdBJHEBllLNrNXiVSsqYh2wUfQRXr1DxUe4x7zhhBnN1-L07XPEUMwtOBjBulfMG4M_rHHERXA9PU0fA39NcWzGLJHpYcORip6JYyUC7i9hkPMuCOqh5Zv_II0XdSiua54E/s1600/caminhos+cruzados.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpRVuKKv6yJdBJHEBllLNrNXiVSsqYh2wUfQRXr1DxUe4x7zhhBnN1-L07XPEUMwtOBjBulfMG4M_rHHERXA9PU0fA39NcWzGLJHpYcORip6JYyUC7i9hkPMuCOqh5Zv_II0XdSiua54E/s1600/caminhos+cruzados.jpg" height="222" width="320" /></a>Sim! Improvável... </div>
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<br /></div>
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Hoje é oito de fevereiro. No dia oito de fevereiro, alguns anos atrás, ele surgia no mundo. Outros anos depois, surgi. E nesse momento passamos a coexistir, engraçadamente sem a menor ideia da existência um do outro. Por algum tempo, vivemos absolutamente alheios a tudo que teríamos um dia. Um pensamento que não faz mais sentido, agora que temos algo tão belo.<br />
<br />
E, se passamos a existir, foi graças a uma cadeia de acontecimentos cujo início data de antes dos meus tataravós, e antes dos tataravós dos meus tataravós; está perdido no tempo. Escolhas pessoais e eventos imprevisíveis, uma gigantesca teia de contatos, tudo culminou naquela manhã em que nossas linhas se interceptaram (darei a este ponto o nome da letra grega "alfa"). </div>
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<br /></div>
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E se eu tivesse nascido um ano antes? Ou um ano depois? E se ele não viesse para São Paulo? Ou ainda, e se ele tivesse nascido em São Paulo? Será que teríamos nos encontrado? Será que nossos caminhos brincariam de se cruzar mesmo assim? Jamais haveremos de saber. No entanto, o improvável aconteceu: nos conhecemos. E em circunstâncias que permitiram, além de simplesmente nos conhecermos, convivermos e nos tornarmos amigos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Todo esse raciocínio me vem à cabeça quando penso na beleza que é estar ao seu lado. Na felicidade que sinto toda vez que os olhos dele se enroscam nos meus. No quanto ele me ensina, mesmo sem querer. E em como é maravilhoso poder ser eu mesma ao lado de alguém a quem tanto amo. A sorte me sorriu; Esbarrei na vida de uma pessoa ímpar, repleta de tantas características que admiro, e que vive a se reinventar e a me surpreender. Não sei se outras <a href="https://www.youtube.com/watch?v=VqGiPaWWWy4">trilhas caminhariam pra gente se achar</a>, e jamais saberei. Mas, graças a essas pequenas idas e vindas, essas escolhas aparentemente inofensivas, meu caminho deu com o de um lindo matemático. E ele me ensinou que "improvável" e "impossível" não são a mesma coisa.<br />
<br />
<br />
<br />
<span style="font-size: x-small;"><i>"A vida é a arte do encontro"</i></span><br />
<span style="font-size: x-small;"><i>Vinícius</i></span></div>
Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-80766012788797807392014-12-01T17:05:00.000-08:002014-12-01T17:05:47.327-08:00ÉxonsParo a travessia no meio da faixa de pedestres para dar passagem ao carro.<div>
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Deito no chão que um dia foi a casa dela, e pela primeira vez me permito morrer de saudades. Aceito que a bolha que existe entre nós precisa desesperadoramente ser estourada. Ouço dizer por aí que tudo tem começo e fim, mas sinto que nem todo amor cabe num intervalo. </div>
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<br /></div>
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Sei que dentro da cabeça o mundo é todo meu. Mas, às vezes, me sinto apenas uma entre sete bilhões.</div>
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<br /></div>
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<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/5-MT5zeY6CU?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">"Para Marina, na esperança de vê-la tocando para mim um dia..."</span></div>
<div>
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Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-18831804792158399502014-10-26T09:36:00.000-07:002014-10-26T09:36:48.173-07:00Achados e perdidos<div style="text-align: justify;">
Despedi-me dele com aquela sensação ruim no abdome, como sempre. Depois de tanto tempo, o tchau ainda era amargo. Pontuava um momento que deveria ser infinito. Suspirei e subi a rua, ainda sentindo o toque dos lábios. Uma voz martelava no fundo da minha cabeça: "Você deixou algo!" Deixei? Repassei mentalmente tudo que havia trazido na bolsa; chave, bilhete, casaco, livro, garrafa vazia. Apalpei a bolsa com os dedos, só para reforçar a certeza de que tudo estava lá. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div>
Os quinze minutos que passei sentada no metrô foram gastos no mesmo trabalho incômodo de conferência e reconferência, dessa vez abrindo a bolsa e retirando item por item. Carteira. Cartão. Remédio. Trident sabor menta. Tudo ali. Assusto com um berro ao me levantar para deixar o trem: "Olha ali! Você tá esquecendo!" Era a voz. Sobressaltada, olho pra trás a tempo de ver o trem partindo da estação, encontrando meu assento tão vazio quanto deveria estar. Retruco, já irritada: "Esqueci o quê, sua maldita? Me deixa em paz." </div>
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<br /></div>
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"Você deixou lá."</div>
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<br /></div>
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"Não acredito que esqueceu <i>isso</i>."</div>
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<br /></div>
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"Não adianta procurar que não tá na sua bolsa."</div>
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<br /></div>
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Não havia nada que eu pudesse fazer. Eu certamente deixara algo lá, não era possível. Mas o quê?!</div>
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<br /></div>
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Um banho. Eu precisava de um banho. Liguei o chuveiro e deixei o questionamento de pano de fundo por um momento. Concentrei-me apenas no que havia acontecido naquele dia. Fui gradativamente envolvida por seu cheiro, o som da sua risada e a cor de seus olhos, e na minha cabeça era abraço e risos e beijo no cocuruto.<i> E tudo estava ali.</i> O riso imaginário me saiu pelos lábios quando finalmente percebi o motivo da minha sensação de vazio. Eu o havia deixado lá. Havia esquecido de trazê-lo na bolsa comigo. Deixei pra trás sua casa, sua rua, o metrô que me levava até ele, o rastro do seu perfume. A voz, dessa vez, soou debochada:</div>
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<br /></div>
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"Viu, menina? Você não ia encontrar nunca nos achados e perdidos..."</div>
Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-70972977242113955622014-10-19T11:12:00.002-07:002014-10-19T11:12:59.996-07:00(hemato)poética<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg61garhgHPhx27I2zruYGIvtPV0zoq2iRZQXHLYYJAFPtPHy1p3o-DtmVlza_GRKevpb-4rUkoKS-Y2-e2EC92SwmuzBMGKn7Ov1EhNWXHxn3uANP1TtyKpKjftDBoNrabG6E9MYNV2cQ/s1600/10581762_746309355404636_1946923419_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg61garhgHPhx27I2zruYGIvtPV0zoq2iRZQXHLYYJAFPtPHy1p3o-DtmVlza_GRKevpb-4rUkoKS-Y2-e2EC92SwmuzBMGKn7Ov1EhNWXHxn3uANP1TtyKpKjftDBoNrabG6E9MYNV2cQ/s1600/10581762_746309355404636_1946923419_n.jpg" height="320" width="254" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Há muito tempo, antes dessa construção se tornar um condomínio de casinhas modernas, precisamente onde hoje fica o quarto em que durmo, existiu um quintal. Pequeno, escondido, um quartel general aos olhos daquela criança magricela. Às vezes, quando o sol estava bom de tomar e os joguinhos lhe aborreciam, ela pegava sua boneca Emília numa mão, o topolino de estimação na outra e saía para brincar no quintal. Um dos quatro lados que o delimitavam era um muro alto de tijolos e concreto, escuro, áspero, guardando um segredo sobre o que havia do lado oposto. Sua única fraqueza era um buraco bem no centro, como um umbigo, do tamanho de um ovo de páscoa. Frequentemente, a menina esmagava o rosto contra o buraco do muro, na esperança de enxergar mais sobre o outro lado, mas tudo que ela sempre via eram folhas compridas e escuras. A única coisa que ela sabia, então, era que do outro lado havia pelo menos uma árvore, e que aquele muro muito provavelmente era o divisor entre sua casa e um mundo encantado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um dia, espiando pelo buraco como costumava fazer, ela viu uma fruta. Uma pequena fruta de formato ovalado e ainda verde, pendendo de um dos galhos da árvore. A excitação foi tanta que chamou a mãe e o padrasto para dividirem com ela a alegria da descoberta. "É uma manga, filha. Essa aí é mangueira, mas a terra não é boa, não. Por isso que quase não dá manga." Ela acompanhou a epopeia da manga até o dia em que ela caiu. Simplesmente não estava mais lá. E desse dia em diante a mangueira nunca mais deu fruta, nenhumazinha. "E nunca mais dará", ela pensou. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Demoliram a casa, derrubaram o muro que escondia a árvore e todo o resto do quintal da vizinha. Construíram o condomínio de casinhas modernas. E a sacada do meu quarto é justamente cara a cara com a mangueira. Eu a acompanhei durante todos esses anos, admirando sua altivez e suas folhas brilhantes, conformada com o fato de que ela jamais geraria qualquer outra manga. Eis que, numa tarde, ao voltar da faculdade, deparo-me com uma fruta verde e ovalada a pender de um dos galhos. Nenhuma palavra no mundo expressará o que essa visão significou para mim. É a renovação súbita da esperança. É mais sobre sentir que escrever. </div>
Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-78601988465087167382014-07-29T22:01:00.003-07:002014-07-30T15:24:51.045-07:00O ciclo da vida<div style="text-align: justify;">
Desde que comecei a estudar veterinária, perguntei-me muitas vezes quando eu finalmente sentiria que estava no caminho do meu coração. Foram escuros os dias em que temi jamais senti-lo. Uma escolha impensada, eu achava, impulsionada por um desejo infantil, que não seria suficiente para abraçar a profissão de toda a minha vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Duas semanas atrás, estava eu às cinco e meia da manhã na estação Artur Alvim, carregando uma mala, uma bolsa e uma mochila, que a custo comportaram tudo que eu queria levar. Mais tarde, naquele mesmo dia, desfazia-as todas no meu novo quarto. Um quarto que, mal sabia eu, guardaria muitas lembranças deliciosas, e uma saudade maior que aquele campus inteiro. Onde eu faria novas amigas (e o Kateta), e estreitaria os laços com as que já possuía. Onde, juntas, escreveríamos poemas de versos terminados em "eco", gritaríamos de medo, riríamos de faltar ar, aprenderíamos dança do ventre. E comeríamos. Pra cacete.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O sol nascia num vermelho sanguíneo de encher os olhos, emoldurando a silhueta dos cavalos recém-despertos, uma visão tão gentil que compensava nossos protestos por ter de colocar o despertador para tocar antes das seis. A dor muscular advinda* de cavocar silagem com a enxada, ou carregar baldes de ração, sumia quando os víamos comendo com gosto. Andaríamos várias centenas de metros com prazer, só pra não abandonar o Mickey na estrada. Tudo era gostoso, não havia nada que fizéssemos juntos que não valesse a pena. Eu sinto falta disso. São Paulo nos torna muito individualistas, chutando-nos cada um pra um canto. A gente acaba perdendo um pouco aquele sentimento gostoso de ser parte de um grupo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUOdQAsAc8OIKE8a-wyThfgw99RxPqZDhwxnfXhqAjmDQ4Mzvx_J5VFo6jogIB4bR10ZqUAn9SzDazzk3KjIEmmgQlWqD3u7msLcxS1rQv30Bz5C77oo8FaYmPAF6CE3HWyHmzQdH83C4/s1600/IMG_6163.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUOdQAsAc8OIKE8a-wyThfgw99RxPqZDhwxnfXhqAjmDQ4Mzvx_J5VFo6jogIB4bR10ZqUAn9SzDazzk3KjIEmmgQlWqD3u7msLcxS1rQv30Bz5C77oo8FaYmPAF6CE3HWyHmzQdH83C4/s1600/IMG_6163.JPG" height="320" width="240" /></a>Foi Pira o palco da descoberta que várias vezes me trouxe lágrimas aos olhos: Os animais estão todos vivos! Soa óbvio, eu sei, mas essa consciência me acertou como um raio. Aqueles olhos, tão cheios de expressão e personalidade, refletiam a mim mesma. Lá estava o feno, que alimentaria o boi. Lá estava o boi, que me serviria de alimento. E, um dia, quando eu morrer, afundarei na terra e ressurgirei como planta, tomando meu lugar no ciclo. Todos temos tempo de ser presa e predador, inclusive as plantas e os humanos. Tudo se transforma, tudo é feito de uma sopa de átomos emprestados. E foi aí que, com o coração a mil, enxerguei a beleza da minha escolha, e o amor pelo que um dia farei.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sinto falta das estrelas surreais, da palavra-com-A, da guerra de bosta, dos cabritinhos, do Miltinho, da Sharon, do Jafar, do cheiro de cu. E daquela moda, e do C8, e das cococoisas. Mas, acima de tudo, sinto falta de estar com vocês. Aprendi tanto sobre amizade, afeto, convivência e sobre mim mesma nessas duas semanas que mal consegui colocar nesse texto. Quero terminar dizendo que NÃO VEJO A HORA DE PASSAR UM SEMESTRE COM VOCÊS! De preferência, com a presença de um amigo que fez uma falta gritante (saudades, bandeco). </div>
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<br /></div>
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Obrigada pela parcela enorme de culpa que têm por essas terem sido as melhores férias de todas. E aproveitem esse gostinho de descanso que ficou no fundo da língua.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*adicionem "advinda" à lista que já contém "ousados", "exposta", "frustrada", "precária", "tristonha", etc.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVtk-ugfJ0D8UMS3puDrXN2zGSZUjLV1XGR-6deDpuZbqkNhyKh-2fReL6YmsvzTzz8Wwn2HBjhJsg9z8GtPiEItP5LO7AJmLIyKjRYHyhBltan6EK5mJl1XMDconQYlFTvKVkxlW4tlw/s1600/20140718_160354.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVtk-ugfJ0D8UMS3puDrXN2zGSZUjLV1XGR-6deDpuZbqkNhyKh-2fReL6YmsvzTzz8Wwn2HBjhJsg9z8GtPiEItP5LO7AJmLIyKjRYHyhBltan6EK5mJl1XMDconQYlFTvKVkxlW4tlw/s1600/20140718_160354.jpg" height="225" width="400" /></a></div>
<br /></div>
Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-80652526810076495272014-07-02T07:38:00.001-07:002014-07-02T08:50:05.443-07:00<div style="text-align: justify;">
Há dezoito anos que moro na mesma rua. Não conto os dois últimos em que fiquei longe. Eu sempre tive consciência de como ela é linda, mas, às vezes, esqueço. Foi o que acabou de acontecer. Hoje de manhã, levando a Maria Nita pra passear, foi como se a visse depois de muito tempo. O ipê amarelo na calçada oposta à minha ainda estava lá, cobrindo de flores a picape vermelha do vizinho, uma visão que me tira o fôlego desde pequena. A vista do céu ainda é a mesma, uma vista privilegiada, posto que minha rua é bem alta e longe de prédios. Se eu olhar bem pra cima, envergando o pescoço em noventa graus, enxergo só o céu e nenhuma casa, e parece que estou voando. Sem contar a música animada vinda da academia, o dálmata da senhora minha vizinha, a goiabeira na calçada da bifurcação, que só deu fruta uma única vez na história desde que nasci. Como se uma pedra martelasse meu crânio, notei que venho tendo pensamentos tortos. A verdade é outra.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Percebi que tenho muita sorte. Não só por morar nessa rua, mas por ter todas essas chances. Por ter um amor correspondido. Por ter família, amigos, casa. Por poder estudar e viajar. E brotou uma semente há muito enterrada. A vontade de que todo mundo no mundo se sinta assim também.</div>
Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-30855047725878088332014-07-01T17:40:00.003-07:002014-07-01T17:42:26.842-07:00"All things must pass", he said<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjab6z1ZgCM7noyNYv_RkT4X5uFbwVAaNWQO7HW7TfhMDG7dCPux23oW3PyOVwiZujuGS1TC0L79q7CKS3OzP_Cf9_aAWiKYnZxQDrzVk1CAmkcQpU3rkdFIeeyTd4p4joVkxSEJ6xvxzk/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjab6z1ZgCM7noyNYv_RkT4X5uFbwVAaNWQO7HW7TfhMDG7dCPux23oW3PyOVwiZujuGS1TC0L79q7CKS3OzP_Cf9_aAWiKYnZxQDrzVk1CAmkcQpU3rkdFIeeyTd4p4joVkxSEJ6xvxzk/s1600/images.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Está aí, ó: a borboleta com a asa amassada. Quem quiser ver, que veja. Lagarta que não coube mais no casulo. Saiu antes do tempo, ou saiu tarde demais, pouco importa; saiu torta. Eu a amo e vivo, com todos aqueles acordes errados e as cores vibrantes e as memórias. Confia no chão sem confiar nas pernas. Vê o sol nascer e acredita que inventou a luz! Tem medo da noite, quando se vê refletida. Tem medo de si mesma nua.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A vida, hão de concordar vocês, a vida é o fenômeno mais lindo que há. Sabe deus se foi deus quem fez, se é acaso. Bom de pensar assim é que te tira da <b>sua</b> vida, como um gancho que puxa pro alto, bem lá no alto. Não parece mais tão assustador lá embaixo, parece, borboleta? Olha só toda essa gente. Agora, vai. Desamarrota essa asa e desce, que está atrasada (nossa moça tem um encontro maiêutico. Adivinhem com quem).</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Escrever a alma não te faz menos forte. Dar esse presente às pessoas é que talvez seja narcisista. A essa altura, deve ser. Ah, mas isso é de uma beleza...</div>
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<br /></div>
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É tão gostoso não poder voar, quando ainda não se sabe ao certo para onde ir, não é? </div>
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<br /></div>
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<br /></div>
Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-68571266854851687712014-06-19T14:35:00.001-07:002014-06-19T16:13:37.837-07:00Aquela que vem do mar<div dir="ltr">
A noite era fria e calma. Nada se ouvia além do bater das ondas no rochedo, uma melodia triste e ritmada. Nenhuma gaivota, nenhuma cigarra e nenhum crustáceo se atrevia a interromper a canção hipnótica. Cada pedaço de vida na praia se calava para embeber-se do som, e observar a moça de longos cabelos e expressão sombria no alto do rochedo. </div>
<div dir="ltr">
Seus olhos brilhavam como dois faróis na penumbra. Ela contemplava o mar. Olhava-o com febril adoração, como um crente a seu deus. Enfim, ela o encontrara; não tinha mais medo do depois, ou do que haveria à sua espera, se é que haveria. Toda angústia, todas as perguntas e toda decepção não mais existiam. Não ali, sob o teto de água. </div>
<div dir="ltr">
A moça fechou os olhos aliviada. Estendeu os braços, saudando o mar, adorando seu deus, tão acolhedor, tão piedoso... O mar a chamava; dentro dele, todas as respostas. Ela sabia disso. Angústia, perguntas e decepção, nada mais importava. Rindo, a jovem moça desatou a correr em direção à beira do rochedo, os olhos fechados, os cabelos e o pesado vestido dançando ao sabor do vento... Até que os pés perderam o chão, e seu corpo era como a mais bela gaivota, indo ao encontro das ondas. Livre como nunca antes. Livre de si mesma. </div>
<div dir="ltr">
Quando tornou a abrir os olhos, viu maravilhas com as quais jamais sonhara. Seres fantásticos e cores e luzes moviam-se ao seu redor. Minutos, meses, anos se passaram. Não sentia necessidade de comer, pensar ou rezar. Quando o último sopro de ar deixou seus pulmões, quando toda ela era feita de mar, a mão enorme e viscosa vinda do profundo veio de encontro à sua. Ela estendeu os dedos murchos de sal, agradecida. Encontrara sua paz. Então, deixou de existir. </div>
Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-72983151083195808622014-06-12T17:39:00.001-07:002014-06-12T19:43:30.640-07:00São Paulo, 12 de junho de 2014<div style="text-align: justify;">
Era meu aniversário. E, embora, a noite fosse fria, não havia lugar mais aquecido onde eu pudesse estar. A realidade bateu-me no rosto três vezes, com carinho: eu não estava sonhando. </div>
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<br /></div>
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Embora não me lembre do primeiro, lembro bem daquele que, por causa das borboletas no estômago, quase não dei. Pensei, caramba!, a felicidade cheira a Egeo! Éramos um e um. E agora somos um coração secreto, um doce de abóbora que virou maracujá. Não se conta porque os lábios não foram feitos pra contar, e sim pra achar tua boca (a mesma que riu tão linda na quase morte da melancia).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Contigo descobri quanta coisa cabe no tempo em que se espera esfriar os biscoitos. Notei que não há valor numa nota, e vi que, antes, eu nada via. Eu te olhei olhar pra mim, e senti que tudo tinha sentido. Decidi morrer* ali, com a Aydar adoçando o ouvido, tua boca a vinte e três milímetros, a noite que não quero que acabe nem se a virarmos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quem diria que o caubói laçaria meu coração. Que S J me faria lembrar de mais que Sandy e Júnior. Amo essa tua coragem de ser. Amo essa certeza de que posso acreditar em tudo que vem desses <a href="https://www.youtube.com/watch?v=lf1j1zrnxss">olhos que me bebem.</a> Hey, baby!, eu te amo!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Da Meireles com um só "l", à minha verdade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: xx-small;">*Embora talvez concordes comigo que morrer de susto com uma freira seria mais engraçado.</span></div>
Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-5741929478815921382014-06-04T20:10:00.000-07:002014-06-04T20:10:30.498-07:00O ser e a existênciaGarrafinha de Epocler entre os lábios. Olhos fechados com força, e... Nada. O cérebro grita: "engole!", mas o braço não dá nem sinal de vida. O corpo não quer, e manda dizer que nem adianta insistir.<br />
<br />
Capítulo 10 do Nicholas aberto. Olhos varrem as palavras, obedientemente, mas a mente nada absorve. O corpo dá sinais de estresse. Não quer ler o Nicholas, quer que ele e sua genética vão para o diabo que os carregue.<br />
<br />
Tem dia que não sou dona de mim. Apenas vivo para ser o bicho que sou.<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/9E6b3swbnWg?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-11173780521979206072014-05-24T18:28:00.000-07:002014-05-24T18:30:55.854-07:00Incertezas, mas eu prefiro assim<div style="text-align: justify;">
"Era legal quando parecia que ia ser legal."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgix_FyqFAJwi52Ky4H2hn6WImjZyMkfx1am7JoDyWkQsm5AZ0VWchGFd77PDzoIDFPWiHC1uyzWvSPaqgrsYS4rz2gdMaleK66v76NV-zrxpc2ArsQLiU21GokqlzR0kS1eh2X4KVh94U/s1600/tumblr_lvi2ag7sfN1qz6i4u.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgix_FyqFAJwi52Ky4H2hn6WImjZyMkfx1am7JoDyWkQsm5AZ0VWchGFd77PDzoIDFPWiHC1uyzWvSPaqgrsYS4rz2gdMaleK66v76NV-zrxpc2ArsQLiU21GokqlzR0kS1eh2X4KVh94U/s1600/tumblr_lvi2ag7sfN1qz6i4u.jpg" height="243" width="320" /></a>Rimos. Foi engraçado como ele pensou tão rápido, e como aquela frase resumia basicamente toda uma batalha interior. O sorriso enrugava os cantos dos olhos, que agora se enchiam d'água - dessa vez, por causa do cheiro de formol.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É mágico quando você traça um objetivo e, ao chegar lá, olha pra trás e vê que todo seu esforço, todo um plano que, por mil fatores - muitos deles extrínsecos a você -, sucedeu bem. Aí você vira e olha pra frente de novo. Até agora, a estrada fora uma. A partir desse ponto, ela se ramifica em tantas que você perde o ar, e tudo que pode fazer é ficar parada lá, bestializada. Nenhum dos caminhos te atrai, a não ser o caminho de volta. Consegui o que eu queria. Mas será que consegui o que preciso?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Duas coisas eu tenho que levar em consideração. A primeira é que eu não sou a mesma pessoa que tomou essa decisão alguns anos atrás. Aliás, essa dúvida já me corroía há algum tempo. A segunda é que uma coisa é ver um lindo pirulito de morango numa vitrine de doceria e desejá-lo, e outra é comprá-lo e levantar a sobrancelha ao perceber que ele tem gosto de óleo de rícino.<br />
<br />
Enfim, escolhi uma trilha, e estou seguindo. Pode ser que daqui a alguns metros ela se mostre encantadora, e eu me apaixone por ela. E daqui a alguns anos eu diga, rindo, "lembra de quando eu pensei em voltar? Tsc." Ao menos, uma coisa é certa: se as coisas não melhorarem, não há chance de continuar. Se eu realmente quisesse chegar no destino que escolhi, removeria as pedras, cortaria os cipós, lutaria com as bestas, e seguiria sorrindo, incansável. O negócio é que estou me deixando tropeçar e arranhar, como desculpa para voltar atrás. Tomar outro caminho. Com medo e tudo.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando eu nasci, o reino todo ficou feliz. Veio uma bruxa e me amaldiçoou para sempre com angústia em todas as vésperas de aniversário.<br />
<br />
___________________________________________________________________<br />
<br />
<i><span style="font-size: x-small;">"Which road do I take?" (Alice)</span></i><br />
<i><span style="font-size: x-small;">"Where do you want to go?" (Cat)</span></i><br />
<i><span style="font-size: x-small;">"I don't know," Alice answered.</span></i><br />
<i><span style="font-size: x-small;">"If you don't know where you are going, any road will get you there."</span></i><br />
<br /></div>
Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-39667238817104876032014-05-11T17:26:00.001-07:002014-05-11T17:30:13.769-07:00Ouvir dizer que eu sou louca (ou o mistério do brigadeiro)<div style="text-align: justify;">
Tá, não é que eu <i>ouvi</i> de fato. Ninguém teve ainda a coragem de verbalizar essa levantadinha de sobrancelha quando eu falo que não gosto de brigadeiro. Entretanto, já ouvi muitos monólogos sobre quão esquisita eu sou - alguns dos quais tão bem fundamentados que dariam uma bela tese de doutorado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fui falar com a única pessoa que eu tinha certeza que diria só o que eu queria ouvir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Ô mãe, você acha que eu sou louca?"</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela parou de cortar a cebola, olhou pra mim com aquela sobrancelhinha semi-levantada (minha mãe não consegue levantar uma só sobrancelha direito, então foi um movimento bem sensível) e eu comecei a rir tresloucadamente, porque ali estava a confirmação, mesmo que ela tenha dito "Claro que não, querida". Eu sabia que ela não entendia como podia ter feito dois filhos tão diferentes em matéria de brigadeiro, já que meu irmão come dessa bola amarronzada por ele e por mais três de mim. Infelizmente ela apenas voltou a cortar a cebola (não sou muito fã da cebola no arroz (embora eu as coma sem qualquer frescura), mas isso uma parcela maior de pessoas parece compreender).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O negócio é que jamais entenderei o que veem no doce que é paixão nacional. Não me entendam mal. Eu gosto de chocolate, gosto muito. Mas parece que, quando embrigadeirado, ele perde toda aquela parte gostosa e fica apenas com a enjoativa. Se pra mim já é difícil mandar uma bolinha pra dentro, imaginem como é interessante ver meu irmãozinho engolindo uma atrás da outra. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para boquiabrir ainda mais os colegas que silenciosamente me cunham de louca, já encontrei mais como eu. Vez ou outra na vida, deparo-me com alguém que também não entende como um doce tão doce possa ser tão amado. E aí geralmente trocamos sorrisos cúmplices e enchemos um pratinho com beijinhos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao menos de uma coisa vocês podem ter certeza: não fui eu quem roubou aquele brigadeiro faltante da mesa do bolo antes do parabéns.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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_____________________________________________________________________</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Dentre todas as coisas nas quais venho pensando, em meio a um abalo sísmico nas ideias que teve parece ter começado a entrar em velocidade constante apenas agora, é sobre isso que sinto tesão em escrever: futilidades. É bem frustrante, e não desistirei dos planos de um dia criar um debate neste blog. Apenas peço que, agora, deem a este texto a nota sarcástica que ele tem por natureza.</div>
Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-654811694432477947.post-31637644257833326762014-04-22T19:34:00.000-07:002014-04-22T22:16:26.112-07:00P(individualismo altruísta) num espaço amostral infinito<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguXkC3PkCGwAxc77mCeDRs_US97Oi8Czgs25Sv2BLSk7zLKPvWoZYPeys-9VU754HJV6Y6mSV5pGQYUkHpGbja9agPjEj1cll5F7aULEOv3BpAa-LTTMmBk7ZYmQhGELJbE3im0xsHbRE/s1600/space-stars-galaxy-universe-andromeda-nebula.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguXkC3PkCGwAxc77mCeDRs_US97Oi8Czgs25Sv2BLSk7zLKPvWoZYPeys-9VU754HJV6Y6mSV5pGQYUkHpGbja9agPjEj1cll5F7aULEOv3BpAa-LTTMmBk7ZYmQhGELJbE3im0xsHbRE/s1600/space-stars-galaxy-universe-andromeda-nebula.jpg" height="180" width="320" /></a></div>
Se o universo é infinito, e este mundo é uma dentre as infinitas possibilidades; e se todas elas estão acontecendo ao mesmo tempo, em várias dimensões; e se tudo que foi, é e será pensado aqui, nesta terra, existe ou existiu em algum lugar; se tudo que desejo e temo aconteceu a alguma das possibilidades de "eu" que há por aí, jogadas no cosmo; se assim é, então em alguma esquina do universo, numa dimensão qualquer, em um planetinha ali, de canto, existe um mundo em que todo e qualquer ato egoísta meu se reflete em um bem enorme à humanidade. Nesse planeta, só aí, a Marina pode orgulhar-se de andar com a cara virada pro próprio umbigo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div>
Mas não aqui. Nesse mundo, não.</div>
Marina GMhttp://www.blogger.com/profile/08574793069809416354noreply@blogger.com1